Projeto de Lei garante direito a exame preventivo para trombofilia

A realização do exame é importante pois permitirá às mulheres predispostas ao surgimento de trombose/trombofilia buscar métodos contraceptivos alternativos e fazer o uso de anticoagulantes

A trombofilia é uma maior propensão à “ocorrência de eventos trombóticos venosos”. Traduzindo: é uma tendência ao chamado “sangue grosso”, que, na prática, contribui para o entupimento de veias. Não se trata de uma doença, mas de uma condição que pode ter diferentes causas.

O planejamento a uma gravidez, o acompanhamento durante a
gestação e a prevenção pós-parto, são cuidados e direitos de todas as mulheres e como a realização do exame que detecta a trombofilia é de alto custo, a sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) para que seja feito de forma gratuita é de extrema importância.

O diagnóstico sobre a trombofilia hereditária ou adquirida é de caráter de urgência para a proteção à vida das mulheres em idade fértil dos 10 a 49 anos, pois por ser um problema silencioso, muitas mulheres só são diagnósticas após terem vários abortos consecutivos, onde não há dor e não há sinais de possuir a doença.

“O nosso sistema de saúde precisa proporcionar de forma gratuita à população tudo que seja necessário para a prevenção de problemas graves, como é o caso da trombofilia. Por isso acredito que o projeto de Lei 1395/2020 tem tudo para ser aprovado e melhorar a vida dessas mulheres”, comenta o autor do projeto, o deputado distrital Hermeto.

Um caso que repercutiu nas redes sociais foi o da cantora de sertanejo Thaeme, que sofreu um aborto espontâneo por causa da trombofilia. Thaeme contou que passou a tomar anticoagulante e fez vários exames para que a segunda gestação fosse saudável  

“Geralmente quando se perde o bebê para uma má formação esporádica, os médicos orientam a tentar novamente de forma natural. Mas eu fiquei com tanto medo de acontecer novamente, que eu e meu marido fizemos o exame cariótipo”, contou.

O que pode causar a trombofilia?


Há duas possibilidades. Uma é a trombofilia hereditária, quando a condição está ligada a fatores genéticos. Outra é quando essa condição é adquirida. Neste caso, ela pode ser desencadeada por diversos fatores que aumentam a coagulação do sangue. Entre eles estão o uso de estrogênios, terapia de reposição hormonal, viagens aéreas prolongadas (por causa da pressão), cirurgias, imobilização e também a gravidez. Quando a trombofilia é adquirida, o quadro mais comum é o da síndrome antifosfolípide, ligada à produção de um tipo de anticorpo que estimula a coagulação. Essa condição representa cerca de 60% dos casos.

A trombofilia hereditária é mais grave que a adquirida?


Não. Na verdade, é o contrário: a síndrome antifosfolípide costuma ser mais agressiva do que os quadros ligados à genética. O que pesa mais é o histórico pessoal e familiar da mulher. Se ela já teve um ou mais episódios de trombose, há grandes chances de que isso se repita durante a gestação. Caso familiares mais próximos (pai, mãe, avós e irmãos) tenham histórico de infarto, AVC ou morte súbita antes dos 50 anos também vale investigar se há relação com a trombofilia.

Para as grávidas, a trombofilia é perigosa?


Sim. Como o sangue fica mais espesso, pode haver entupimento tanto das veias da mãe como obstrução da circulação do sangue que vai para a placenta. Se metade das veias da placenta  entopem, ela começa a se descolar antes da hora – esse é um dos principais riscos para grávida com trombofilia. Nos casos menos agressivos, pode haver obstrução parcial das veias da placenta. Isso reduz o fluxo de sangue e, consequentemente, de nutrientes que chegam ao bebê. Por isso, a trombofilia também está ligada à redução do crescimento fetal. Além disso, quando 90% das veias da placenta ficam obstruídas, o bebê vai a óbito. Isso aumenta o risco de abortos de repetição, assim como de parto prematuro. Em relação à saúde da mãe, uma das complicações mais temidas é a embolia pulmonar, que é quando as artérias ou veias do pulmão ficam obstruídas. Além disso, a gestante com trombofilia tem mais risco de desenvolver pré-eclâmpsia. 

Quais são os sintomas da trombofilia?


Muitas vezes essa condição é assintomática, mas um dos sinais de alerta é o inchaço repentino. Aquelas gestantes que têm pré-eclâmpsia antes de 34 semanas de gravidez também devem ficar atentas. Outro sinal de alerta é quando a barriga da mãe cresce pouco, já que o bebê não se desenvolve como esperado.

Há fatores que podem piorar o quadro?


Sim. A gestação gemelar, por exemplo, aumenta o risco de trombofilia porque a mulher produz mais fatores de coagulação. A desidratação também pode agravar a situação porque engrossa o sangue. Vale mencionar ainda o uso de drogas e o cigarro, assim como o excesso de peso, uma vez que a gordura aumenta os riscos de trombose. (Por esse motivo, a gestante deve ficar ainda mais atenta à balança e praticar atividades físicas com regularidade). Quanto mais avançada a idade da mulher, maior é o risco de trombofilia.

Que outros cuidados são necessários para as grávidas?

Se a mulher for viajar de avião, os exames do bebê têm de estar normais e, mesmo assim, os médicos só costumam liberar trajetos mais curtos, com duração máxima de 4 horas. Nesse período, é importante que a grávida se mantenha bem hidratada e tente se mexer durante o voo. No dia a dia, devem ser tomadas precauções gerais, como uso de meias elásticas, realização de atividade física e controle clínico e obstétrico regular. De acordo com o histórico pessoal e familiar, e com os resultados dos exames de trombofilia, pode ser necessário uso de heparina e/ou ácido acetilsalicílico. Se não for tratada, a síndrome antifosfolípide pode dimunuir as chances de ter um filho vivo para 10%. Com o tratamento, essa taxa sobe para 85 a 90%. Ainda assim, vale o alerta: mesmo com o tratamento a gestação de grávidas com trombofilia é sempre de alto risco. Por isso é preciso fazer um pré-natal rigoroso, acompanhando bem de perto. tanto a saúde da mãe como do filho.

Vanessa de Araújo

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