Feira Permanente do Núcleo Bandeirante

Projeto de Lei n°1472/2020, de autoria dos deputados Hermeto e Rodrigo Delmasso, reconhece a feira como relevante interesse cultural, social e econômico do DF

Projeto de Lei n°1472/2020, de autoria do deputado Hermeto, reconhece a feira como relevante interesse cultural, social e econômico do DF

O Núcleo Bandeirante, antes chamado Cidade Livre, possui a feira mais antiga de Brasília. Ela surgiu junto com o primeiro aglomerado urbano para onde confluíram populações de diversas partes do Brasil, mas principalmente do interior do Nordeste, para dar início à construção da cidade. Dezesseis de dezembro de 1956 é a data do traçado e da implantação do núcleo operário, com apenas três ruas, por decisão de Bernardo Sayão, então diretor técnico da Novacap.

A assim denominada Cidade Livre teve seu nome trocado no mesmo ano quando o presidente Juscelino Kubitschek, ao visitá-la e ver seus habitantes em calças de brim riscado, chamou-os os novos bandeirantes, habitantes do Núcleo Bandeirante, que ficou assim batizada desde então.

Para incentivar a vinda de trabalhadores, o presidente Juscelino oferecia lotes aos interessados e os isentava de encargos fiscais, daí a denominação de Cidade Livre. O acampamento tornou-se rapidamente um centro de comércio, serviços, lazer e boêmia. Os migrantes chegaram atraídos por essas facilidades aparentes e a cidade logo tornou-se um centro comercial importante, local de abastecimento, carregamento e descarregamento de caminhões com mercadorias que seriam depois distribuídas para todos os outros pontos habitados do Distrito Federal. Este ponto ficou conhecido como Mercado Núcleo Bandeirante: nasce uma cidade e uma feira.

Um estudo sobre as feiras permanentes de Brasília Diamantina, lugar que concentrava toda essa atividade mercantil. A feira, a ele adjacente, virou referência, assumindo posição de destaque na cidade, único lugar, naquele início de vida urbana, onde se podia trocar, comprar, vender, oferecer e contratar serviços, atraindo mesmo os habitantes de outros pontos de Brasília.

Primeira “Cidade-Satélite” de Brasília, reconhecida com esta denominação desde 1961, quando é sancionada a lei que regulamenta o aglomerado urbano, tem até hoje, em sua feira, uma marca de orgulho. Ela surge assim como o resultado e a conquista de grupos sociais e redes familiares interligadas, constituídos pelos feirantes e pessoas envolvidas em uma luta que culminou com o reconhecimento e a regulamentação da atividade, em 1971.

A feira destaca-se pela forte presença nordestina, materializada nos produtos – queijos de coalho e manteiga, doces, farinha, rapadura, plantas e raízes, peças de artesanato, música e dança – e, principalmente, na culinária. De fato, é este rico acervo culinário nordestino que mais atrai os freqüentadores e turistas que vão em busca dos sabores fortes do sarapatel ou da boa carne de sol.

Talvez mais importantes que os produtos em si sejam as relações personalizadas que se estabelecem entre quem vende e quem compra. A troca de informações sobre o produto é de extrema relevância porquanto introduz uma dose de desalienação à mercadoria. A pessoa que vende queijos conhece o produto e sabe interpretar o gosto do cliente.

O fato de ser atendido por alguém que é conhecedor do assunto faz toda a diferença, pois transforma uma relação puramente mercantil em uma relação em que há troca de experiências. Outro ponto forte da feira é a cultura e o conhecimento trazidos pelos raizeiros. Eles não vendem simplesmente plantas e garrafadas, eles explicam como preparar as decocções e infusões, e como o remédio age no organismo, oferecendo uma alternativa de cura para diversas moléstias, em um contexto urbano em que predomina o medicamento industrializado.

Em cantos improvisados como palcos, revezam-se cantadores e cordelistas, trios clássicos de música do sertão – sanfona, triângulo e zabumba –, contorcionistas e comedores de fogo. Ser a mais antiga e também a portadora de uma memória da construção da cidade e locus da preservação de saberes são características que fazem dessa feira uma das mais importantes do Distrito Federal.

 Ali é possível encontrar certas plantas medicinais, animais vivos, galinhas, frangos, galos, perus, gansos e coelhos, criados nos quintais, de forma tradicional, artigos de culto e outros produtos de cultivo exclusivo. Ainda hoje, há feirantes que, oriundos dos tempos do Mercado Diamantina, conhecem toda aquela história e a transmitem a seus filhos e netos, que têm a feira em grande conta pois foi ali que conseguiram ascensão social e o acesso a bens e serviços urbanos.

Informações: Iphan

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